terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Coluna Cinema - por J.P. Teixeira



Fragmentos no deserto


Milhares de quilômetros nos mais inóspitos desertos do oriente até a feroz guerra contra o gigantesco império turco-otomano na primeira guerra mundial. Essa é a saga do tenente Thomas Edward Lawrence, que abandona o burocrático posto de pintor de mapas no exercito inglês, para se tornar um dos construtores da identidade árabe.

Tão exótico quanto o próprio protagonista, o filme Lawrence da Arábia (David Lean, 1962) é uma análise visceral do ser humano envolto no desconhecido. Na guerra, no deserto, no conflito cultural. Quase quatro horas de filme (226 min), se misturam ao vaivém das dunas, aos diálogos densos e aos focos precisos do diretor David Lean.

É uma película com fotografia “limpa” – como o próprio Lawrence descreve seu fascínio sobre o deserto ao fictício repórter do Chicago Post – e permeada com trilha sonora vencedora de um dos sete oscars do filme. O militar erudito que chega a representante árabe na Conferência da Paz, em 1919, tem a sagacidade de Indiana Jones, de Spielberg, mas também os trejeitos de Forest Gump, de Zemeckis, e a estranheza de Lenny Weinbird, de Woody Allen.

A definição de Lawrence é feita no próprio enredo: um fragmento infinito de um representante dos dois lados da mesma guerra. Sua autobiografia, (Os Sete Pilares da Sabedoria, 608 páginas), dita os plot points que compõe a obra de David Lean. Eles giram em torno da conquista da cidade de Aqaba, o icônico rapto pelos turcos, a invasão de Damasco e a desilusão política na criação da nação árabe.

A densidade literária é captada com maestria e ressurge com emoção a cada capítulo. Além de relato de um front pouco explorado da primeira guerra mundial, esse épico que figura entre os dez melhores filmes de todos os tempos. Contado em flashback depois da morte de Lawrence em um acidente de moto, em Dorstet, na Inglaterra, é um filme daqueles para ter na prateleira.

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