sábado, 26 de dezembro de 2009

Coluna Língua Portuguesa - por Sinésio Dioliveira

"O ora recorrido é o autor da presente demanda judicial. Nessa condição, vem à Vossa Excelência, que sobre o feito detém a jurisdição neste instante, requerer a desistência da presente ação, respondendo pelas custas e ônus sucumbenciais, rogando que sobre tal pleito seja ouvida a parte adversa, como ordena a legislação." (Petição dos advogados de Fernando Sarney – Eduardo Antônio Lucho Ferrão e José Rollemberg Leite Neto – encaminhada ao presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal)
Sabe bem o leitor que a palavra “merda” está bombando por aí, principalmente entre os humoristas, depois que o presidente Lula mencionou-a num de seus discursos estapafúrdios. Certamente Fernando Sarney se deu conta da “merda” que fez recorrendo à Justiça (justamente ela que deu fim à arcaica Lei de Imprensa) para silenciar o jornal Estadão em relação à Operação Barrica, e por isso desistiu da ação.

Mudemos de assunto, pois o que interessa aqui é tão-somente gramática e não política. Não se usa artigo definido feminino (a) antes de pronomes de tratamento; preposição sim. Senhora, senhorita e dona fogem da regra.

Não dizemos “A Sua Excelência faz jus ao cargo que ocupa”, mas sim “Sua Excelência faz jus ao cargo que ocupa”. Não havendo artigo, não há como ocorrer crase, que é a fusão de duas vogais: a (preposição) + a (artigo). Outra comprovação de que tais pronomes não aceitam artigo está no fato de que não dizemos “A ação da Vossa Excelência fere a lei”, mas sim “A ação de Vossa Excelência fere a lei”.

Já que o presidente do Tribunal de Justiça do Distrito é um homem – desembargador Nívio Geraldo dos Santos –, os advogados de Fernando Sarney deveriam ter tomado o caminho da concordância siléptica, que é a do campo da ideia, e não a gramatical: usando crase porque o pronome “vossa excelência” é constituído de palavras femininas. Vejamos exemplos das duas concordâncias:

Siléptica: Vossa Excelência foi sensato em sua sentença.

Gramatical: Vossa Excelência foi sensata em sua sentença.

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